Os dois
extremos da vida me chamam atenção! Os mais jovens pela ansiedade e vitalidade,
os idosos pela experiência de vida e a forma como enxergam o mundo.
Por
trabalhar numa Unidade de Internação - adulto (andar), me deparo com um público
variado, com maior incidência de idosos. As crianças me fascinam, mas deixo
para os colegas com maior habilidade cuidarem delas quando estão doentes. Então
este post abordará a incrível relação com os idosos.
“A campainha toca pela milésima vez em uma
hora e você atarefado precisa ir ao quarto. Desta vez foi para cobrir os pés,
mas há 10 minutos era para descobrir. E o acompanhante deitado no sofá,
assistindo TV, navegando na internet e muito feliz por você desligar a
campainha que o estava incomodando, pouca atenção dava para o seu avô. Você
impaciente, pensa: ‘Mas já?’. ‘Tenho muitas coisas pra fazer e me incomodam por
nada!’ Ao sair do quarto pensa: ‘Poderia ter feito Engenharia ou Informática
ganharia mais e não passaria por isso’.”
Esta
história não é verídica, mas é baseada em fatos reais e quem trabalha na
assistência já presenciou situações semelhantes diversas
vezes. Ao entrar no quarto para realizar um cuidado, você percebe a facie
entristecida do paciente, pergunta o que está acontecendo e a conversa está
estabelecida. Ele te conta o quanto é ruim envelhecer: era ativo, trabalhava
muito e agora nem o familiar tem paciência com ele, é um fardo estar “velho”.
Isso te faz pensar, ou seja, te ensina da forma mais prática sobre as
prioridades, agora você olha para o Paciente e enxerga finalmente um idoso, um
ser humano com história assim como você.
Várias
situações no meu cotidiano de trabalho aumentam o meu respeito pelos idosos.
Vou dividir com vocês uma história de muitas que poderia contar. “Sr W. 86
anos, pele fragilizada por diversos procedimentos em 2 meses de internação, por
causa de uma Pneumonia. Um mês de CTI e agora no Andar,com as pernas
fracas e preocupado como seria o seu
cuidado na alta. Após o trabalho multiprofissional, estava saindo do leito há
alguns dias, para sentar na poltrona e tomar banho no banheiro utilizando uma
cadeira higiênica. Neste dia em questão ele foi até a porta do quarto com o
fisioterapeuta, utilizando um andador, fui solicitado a encaminha-lo para
realizar uma Radiografia de tórax PA e Perfil (em pé e de lado). Quando fui
avisar sobre o exame e como seria, ficou bem ansioso. Após uma conversa
minimizando os riscos, desci com ele para realizar o exame. O exame foi um
sucesso! Retornando para o quarto, ao lado do elevador tem uma porta espelhada,
então o Seu W. se olhou no espelho e
falou simulando um misto de surpresa e indignação
“Estou descabelado, não!!!” Olhou mais um pouco e concluiu: “Estou ficando
careca, quando foi que isso aconteceu”? Dei uma gargalhada. Tem que ter muita
sabedoria, para ter senso de humor, envolto a diversos medos e tantas
intercorrências que uma internação na terceira idade pode trazer, mas ele teve.
Realizamos
o exame, apesar das dificuldades, pois havíamos estabelecido uma relação de
respeito há semanas. O Binômio Enfermeiro/ Paciente é muito complexo, cercado
de muitas emoções e aprendizado. Que as manias e as particularidades nossas e dos
pacientes, não interfiram negativamente na nossa relação, mas positivamente.
Uma dica para os profissionais e pacientes:
quanto mais humano você for, melhor retorno receberá.
Termino
o décimo post com um trecho da música do Lenine, Paciência:
“...Será
que é tempo
Que lhe
falta pra perceber?
Será
que temos esse tempo
Pra
perder ?
E quem
quer saber ?
A vida
é tão rara
Tão rara...
Mesmo
quando tudo pede
Um
pouco mais de calma
Até
quando o corpo pede
Um
pouco mais de alma
Eu sei,
a vida não para
A vida
não para, não...”
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