terça-feira, 15 de outubro de 2013

A vida não para, não...


Os dois extremos da vida me chamam atenção! Os mais jovens pela ansiedade e vitalidade, os idosos pela experiência de vida e a forma como enxergam o mundo. 

Por trabalhar numa Unidade de Internação - adulto (andar), me deparo com um público variado, com maior incidência de idosos. As crianças me fascinam, mas deixo para os colegas com maior habilidade cuidarem delas quando estão doentes. Então este post abordará a incrível relação com os idosos.

“A campainha toca pela milésima vez em uma hora e você atarefado precisa ir ao quarto. Desta vez foi para cobrir os pés, mas há 10 minutos era para descobrir. E o acompanhante deitado no sofá, assistindo TV, navegando na internet e muito feliz por você desligar a campainha que o estava incomodando, pouca atenção dava para o seu avô. Você impaciente, pensa: ‘Mas já?’. ‘Tenho muitas coisas pra fazer e me incomodam por nada!’ Ao sair do quarto pensa: ‘Poderia ter feito Engenharia ou Informática ganharia mais e não passaria por isso’.” 

Esta história não é verídica, mas é baseada em fatos reais e quem trabalha na assistência já presenciou situações semelhantes diversas vezes. Ao entrar no quarto para realizar um cuidado, você percebe a facie entristecida do paciente, pergunta o que está acontecendo e a conversa está estabelecida. Ele te conta o quanto é ruim envelhecer: era ativo, trabalhava muito e agora nem o familiar tem paciência com ele, é um fardo estar “velho”. Isso te faz pensar, ou seja, te ensina da forma mais prática sobre as prioridades, agora você olha para o Paciente e enxerga finalmente um idoso, um ser humano com história assim como você.

Várias situações no meu cotidiano de trabalho aumentam o meu respeito pelos idosos. Vou dividir com vocês uma história de muitas que poderia contar. “Sr W. 86 anos, pele fragilizada por diversos procedimentos em 2 meses de internação, por causa de uma Pneumonia. Um mês de CTI e agora no Andar,com as pernas fracas  e preocupado como seria o seu cuidado na alta. Após o trabalho multiprofissional, estava saindo do leito há alguns dias, para sentar na poltrona e tomar banho no banheiro utilizando uma cadeira higiênica. Neste dia em questão ele foi até a porta do quarto com o fisioterapeuta, utilizando um andador, fui solicitado a encaminha-lo para realizar uma Radiografia de tórax PA e Perfil (em pé e de lado). Quando fui avisar sobre o exame e como seria, ficou bem ansioso. Após uma conversa minimizando os riscos, desci com ele para realizar o exame. O exame foi um sucesso! Retornando para o quarto, ao lado do elevador tem uma porta espelhada,  então o Seu W. se olhou no espelho e falou simulando um misto de surpresa e indignação “Estou descabelado, não!!!” Olhou mais um pouco e concluiu: “Estou ficando careca, quando foi que isso aconteceu”? Dei uma gargalhada. Tem que ter muita sabedoria, para ter senso de humor, envolto a diversos medos e tantas intercorrências que uma internação na terceira idade pode trazer, mas ele teve.

Realizamos o exame, apesar das dificuldades, pois havíamos estabelecido uma relação de respeito há semanas. O Binômio Enfermeiro/ Paciente é muito complexo, cercado de muitas emoções e aprendizado. Que as manias e as particularidades nossas e dos pacientes, não interfiram negativamente na nossa relação, mas positivamente.

Uma dica para os profissionais e pacientes: quanto mais humano você for, melhor retorno receberá.

Termino o décimo post com um trecho da música do Lenine, Paciência:

“...Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder ?
E quem quer saber ?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para

A vida não para, não...”

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